Passar um tempo em outro país sempre faz bem, com tantas novas experiências e aprendizados. Porém, o que nem sempre contam para quem vai é que, assim que alguém finca suas raízes em outro solo, a pessoa começa a se fragmentar geograficamente. Ao voltar para reencontrar o pedaço que ficou na terra-mãe, uma outra parte já ficou na casa nova.
Talvez tenha sido essa a motivação do carioca Rubel fazer seu Pearl, disco sobre o período em que ele passou na residência de mesmo nome da culturalmente rica cidade de Austin, no estado norte-americano do Texas. Cantar sobre o período em músicas feitas naquela época e lugar são uma maneira de trazer para perto aquele fragmento hoje tão distante do qual se sente saudades.
Outro fenômeno que sempre ocorre nessa situação é que, ao sair de sua casa e ir para um lugar novo, a observação do outro e sua cultura abre os olhos, na verdade, para o indivíduo enxergar-se a si mesmo. No caso de Rubel, a impressão é a que ele teve um contato grande com sua brasilidade e a maneira com que a pátria lhe ensinou a pensar e fazer música.
Seu violão (“carioca”, como ele define) tem um quê tupiniquim delicioso. Além disso, essa redescoberta das coisas de si próprio fez com que ele criasse um som que preza pela simplicidade do íntimo, a singeleza das coisas que mais são verdadeiras. E isso se dá em forma e conteúdo - tanto na maneira de compor e cantar, quanto nas letras.
Ele faz poesia com poucas palavras e exprime muito sentido de poucos timbres. O acordeão e o banjo em algumas faixas dão um ar mais caipira ao todo. Tem um clima “caseiro” sim, no sentido mais amigável do termo. Música feita entre amigos e aproveitando a diferença da língua das pessoas em volta para poder falar dos sentimentos e ideias mais pessoais.
Ele divaga sobre suas conclusões de como se viver (“Lança o barco contra o mar/venha o vento que vier/e, se puder, voa”, em O Velho e o Mar, “... sorrindo ela entendeu/que a vida só se dá/pra quem se deu”, em Mascarados) e declarações de amor, sejam elas de cunho romântico (como na linda Quando Bate Aquela Saudade, o ponto mais alto do disco em volta do qual todas as outras faixas parecem ser construídas), ou pela casa que o acolheu em Austin (na faixa-título).
O que fica é a sinceridade e a beleza nas composições do artista nesse grande misto do que ele era lá e é hoje aqui, sendo tudo uma só pessoa e tantas partes ao mesmo tempo. Tanto é que sua voz aparece duplicada em alguns momentos, como se ele fizesse um dueto consigo mesmo. E, assim, com portas e braços abertos, ele nos convida a revivermos um pouco de suas experiências. (Texto: MonkeyBuzz)
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Discografia
Pearl (2013)
01. O Velho e o Mar
02. Mascarados
03. Pearl
04. Quando Bate Aquela Saudade
05. Ben
06. Nunvem
07. Quadro Verde
02. Mascarados
03. Pearl
04. Quando Bate Aquela Saudade
05. Ben
06. Nunvem
07. Quadro Verde